É do
cimo da Serra de São Macário, que avisto meia dúzia de casas de xisto aninhadas
no fundo do vale, num cenário deslumbrante e inspirador. Sinto-me dona do mundo, com tamanha beleza!
Chegar
à Adega Típica da Pena, mesmo à entrada da Aldeia da Pena (concelho de São
Pedro do Sul), não é tarefa fácil, sobretudo se nos depararmos com um carro em
sentido contrário. Mas, adiante. Nada de esmorecer porque a visita à Pena, é
merecida! E se o cenário é único e singular, esta adega está ao mesmo nível nas
suas iguarias gastronómicas.
Uma
pequena casa de xisto, num espaço simpático e acolhedor. Na decoração, pouco há
a acrescentar. Objetos com alma e cheiros de histórias. É
fácil identificarmo-nos com as garrafas de refrigerantes que nos
remetem para a infância. As paredes são cobertas de cartões de
visita, pedaços de papel manuscritos com mensagens dos visitantes. Pendem sobre
o balcão uma série de campainhas (outrora usadas pelo gado, digo eu que nada percebo disso). E há
ainda umas peças de artesanato típico da aldeia e uns licores que podemos
admirar e… adquirir. Umas velhas notas e uns cachecóis de clubes regionais
adornam o teto. As memórias assumem-se como protagonistas incontestáveis. Bom,
essas… e os petiscos.
O
exterior – com uma pequena varanda e vista serra – é coberto por videiras e um
telheiro com forno a lenha para o cabrito assado e grelhados na brasa, que se
dizem especialidades da casa.
Pormenor
curioso: a casa de banho encontrar-se no piso inferior, mas do lado exterior da
casa! Gostei mesmo do porta-chaves. Assim, é difícil perdê-lo.
Com a
hora de almoço a chegar, abeirei-me do balcão e quase adivinhando a resposta
questionei se tinha multibanco. "Costumamos ter, mas… está avariado". Devo ter ficado com aquela cara de toma-lá-que-já-comeste-e-aprendeste que fui convidada a almoçar e a pagar posteriormente…por transferência
bancária. Ora, digam lá: até os olhos se me arregalaram. Primeiro declinei, mas
perante o apetite e o cheiro das carnes no braseiro, não me fiz rogada! Um
grande bem-haja à confiança.
Mesa no
exterior para duas pessoas, bancos em xisto fixos e...qual carta! Quem
quiser saber o que ali se come tem de olhar para a placa de ardósia em cima das
mesas. Decidimo-nos apenas pelos petiscos: azeitonas, chouriça assada, um prato
bem recheado de presunto curado, um queijinho de cabra fatiado, um cesto de pão
e broa a casar com um copo de tinto da casa. Não nos acanhámos. Lá por ser
verão, o corpo não trabalha só a saladinhas. Até porque a subida até ao carro
era íngreme e ainda íamos calcorrear uns trilhos. Posto isto, toca de
aconchegar o estômago! E não ficámos nada mal.
O espaço
– o único restaurante da aldeia - rapidamente acolheu gentes de Mirandela,
Arouca, Viseu, enfim, passantes. Está claro que ouvimos a galhofa toda da vizinhança. É daqueles sítios que convém ir acompanhado com alguém que fale e solte umas risadas, senão sujeita-se a levar com a conversa dos outros. De qualquer modo, é simples e de bom trato. Segundo percebi, convém ir cedinho –
pelo menos, durante os dias de calor. Enche depressa.
A
comida: petiscos tradicionais e saborosos.
O
atendimento: simpático, célere e com gente da casa.
O
ambiente: típico de aldeia de xisto. Muito
aprazível no verão. Já no inverno deve ser frio para caraças.
A
localização: um bocadinho, só um bocadinho fora de
mão (cerca de 20km de São Pedro do Sul).
Gostei
mesmo: de comer e pagar depois – fiar,
portanto.
Não
gostei: da casa de banho.
E se
for o caso, onde ficar: Solar
Quinta de São Carlos (Viseu) - excelente hospitalidade, conforto e sossego!
E agora, vou ali fazer um strudel de alheira e espinafres, só para contrariar.